quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Poeta João Pacífico faria hoje 100 anos



João Baptista da Silva, João Pacífico, nasceu em 5 de agosto de 1909 na cidade de Cordeirópolis, quando ainda se chamava Cordeiro. Se o poeta e compositor sertanejo estivesse vivo, completaria 100 anos hoje. Sua história emociona pela simplicidade com que conduzia a vida e os sonhos. Mesmo sem saber tocar instrumentos, a música foi sua vida.

A riqueza de espírito e o encanto pela vida foram reproduzidos em canções sertanejas, e sua alegria, mesmo nos momentos difícieis, foi contada em versos de forma a tocar o coração pela delicadeza de um verdadeiro poeta.
A trajetória de vida, assim como as obras, serviu de inspiração para que o grupo de teatro Pingo D´Água, de Cordeirópolis, sob a direção de Roberto Vignati, produzisse o espetáculo “João Pacífico, o poeta do sertão”, que ganhou 25 prêmios em diversos festivais de teatro de todo o país e venceu o Mapa Cultural 2007/2008, tendo concorrido com 101 espetáculos.
Segundo a atriz, Pamela Rodrigues, o grupo surgiu em 2005 depois de uma oficina teatral oferecida pelo diretor. O convite para que Vignati fosse até a cidade partiu da cordeiropolense Vilma Peramezza, que administra o Conjunto Nacional em São Paulo, com a intenção de resgatar a atividade teatral depois de 50 anos.
Impulsionadas pelo trabalho desenvolvido na oficina, surgiu a ideia de montar um espetáculo teatral ligado à cultura local. “O grupo começou a pesquisar sobre a vida e história do poeta”, conta a atriz. Foi feita uma ampla pesquisa para a criação da peça. “Biblioteca, livros de poesia, visita ao Museu de Imagem e do Som (MIS)”, relembra Paloma. Também encontram muitas informações nos trabalhos de conclusão de curso das jornalistas: Talita Machiute e Maria Conceição da Silva, além do casal Freddy e Maria Antônia Mogentale, que acolheu Pacífico nos últimos anos de sua vida.
A pesquisa resultou no encontro com a neta de João, Ana Carolina, que doou todo o acervo para a Associação Casa de Cultura João Pacífico, localizada em uma casa cedida por Vilma no centro da cidade.
O resultado foi o espetáculo que estreou em abril de 2006, inaugurando o Centro Cultural Ataliba Barrocas, primeiro teatro municipal de Cordeirópolis. A iniciativa contou com o apoio da Secretaria de Cultura e Prefeitura de Cordeirópolis. O grupo, hoje, possui 26 integrantes.

HISTÓRIA

De origem humilde, João era filho de dona Domingas, ex-escrava ajudante de cozinha na Fazenda Ibicaba, e de seu José, maquinista da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A infância foi alegre e simples, com muitas brincadeiras de rua e correrias. Estudou até o terceiro ano, pois não achava a escola muito atrativa. Suas notas eram repletas de zeros, o que não empolgava dona Mariquinha, a professora, que avisou que ele não iria para o quarto ano.
Em mudança para Limeira, com a mãe, foi trabalhar como estafeta, espécie de office-boy na coletaria. Trabalhava durante a semana na entrega de cartas e nos finais de semana tocava caixa na banda da cidade, que se apresentava no coreto.
Aos 10 anos, nova mudança: foi para Campinas, onde descobriu a vocação musical ao frequentar a casa de dona Ana, irmã do compositor Carlos Gomes. Na época, percebeu o interesse do jovem pela música e incentivava. Os versos atraíam João, que cada vez que se apaixonava escrevia poemas e revelava a alma cabocla.
Seu primeiro emprego, já na adolescência, foi como ajudante de guarda-pratos na Companhia Paulista de Estradas de Ferro,onde o pai era maquinista. Aos 15 anos, em 1924, João sentiu necessidade de voar mais alto e aventurou-se rumo à capital. Ao desembarcar em São Paulo foi trabalhar como estafeta novamente numa fábrica de tecidos, após alguns anos, acreditando que o trabalho não ia levar em nada, retornou para Campinas. Foi quando um amigo certo dia viu-o cantar e declamar e convidadou-o a se apresentar na Rádio Educadora de Campinas. Na ocasião, ele interpretou a valsa Mimi, sucesso da época. Tornou-se presença constante na emissora. A primeira música de sua autoria foi a embolada “Seo João Nogueira”.
Os momentos conturbados em São Paulo fizeram com que João voltasse em 1931 para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Nesse ano adotou o nome artístico pelo fato de ser calmo, pacato e os amigos o chamarem de pacífico. Suas contribuições na Rádio Educadora de Campinas continuaram até que conheceu o poeta Guilherme Almeida.

PARCERIA

O contato fez com que João tomasse uma decisão e retornasse novamente para São Paulo, onde conheceu o seu primeiro parceiro musical, Raul Torres. A embolada Seo João Nogueira foi gravada pela primeira vez em 1934 e, no ano seguinte, a gravadora Odeon lancou nova versão na interpretação de Raul Torres e sua Embaixada. O disco fez sucesso que rendeu uma longa parceria e gravação de músicas como o “Teu Retrato”, “O Vizinho me contou”, “Coroa de estrelas” e “Foi no romper da Aurora”. Com a música “Chico Mulato”, João Pacífico se consagrou como um dos mais importantes compositores de sua época, tornando-se um clássico da música caipira além de lançar o estilo toada histórica.
A consagração popular veio com a história de amor “Cabocla Tereza”, gravada em 1940 por Torres e Serrinha. A música entrou para a história do cancioneiro nacional ao ser gravada por grandes nomes da época como Tonico e Tinoco, Inezita Barroso e, mais tarde, por duplas sertanejas modernas como Chitãozinho e Xororó.

PINGO D´ÁGUA

Em viagem a Barretos, em 1944, o poeta e compositor se deparou com um cenário de seca, pois não chovia há meses. Ao ver uma procissão, ficou comovido e resolveu escrever uma promessa em versos. Ao descrever uma realidade comum, a música se tornou um grande sucesso e rendeu o único disco de ouro da carreira.
Mesmo sendo a música sua inspiração e paixão, João Pacífico trabalhou para se manter, pois sabia que não poderia viver somente da música.
Em 1955, conheceu Deolinda Rodella por quem se apaixonou. Eles têm um filho chamado João Baptista, o Tuca. Casou com Deda em 1983, após 28 anos de convivência e, depois de dois anos, nasce sua neta Ana Carolina.
Em 1990, com a morte de Deda, vai morar com o casal Frederico Mogentale e Maria Antônia, amigos e fãs de João Pacífico em Guararema, onde passou seus últimos dias até sua morte, em dezembro de 1998.
(Fonte: Revista João Pacífico - uma trajetória poética)
(Copiado do jornal eletrônico da Gazeta de Limeira (http://www.gazetadelimeira.com.br/Noticia.asp?ID=25681) em 05/08/2009.


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